Reflectindo…

A agitação do dia-a-dia é um obstáculo à reflexão e conduz à mecanicidade. A ausência de dimensão espiritual faz da vida um terreno estéril, onde as pessoas vagueiam perdidas. Adquirem bens materiais, procuram afirmar-se profissionalmente e, enquanto uns fazem tudo para manter a boa forma física, outros vão arruinando a saúde para alimentar vícios.

A desagregação das famílias em nada é favorável ao crescimento interior das crianças, que se tornam revoltadas e cépticas. Extravasam a agressividade de muitas maneiras, desde a zombaria ao insulto e à violência física. Cedo ficam a conhecer o lado torpe do mundo dos adultos. O espírito de transgressão arrasta-as para o mal, de onde um grande número não conseguirá sair, devido à inépcia de uma sociedade que não as protege e ainda contribui para as desencaminhar. Multiplicam-se as seduções, face à permissividade reinante e a um pretenso amoralismo que apenas serve para encobrir a falta de norte… Chagas sociais que os discursos dos políticos ignoram, a menos que o facto de as denunciarem lhes traga algum proveito. A publicidade anuncia um mundo de coisas fictícias que faz passar por necessárias, alimentando vaidades, ambições, comportamentos fúteis, rivalidades. Não importam os meios, desde que se atinjam os fins pretendidos. A influência da imagem é poderosa e apela frequentemente aos instintos primários.

A liberdade sem responsabilidade, própria dos tempos de hoje, tornou-se causa de morte de tantos jovens que ninguém ajudou a crescer na ternura, na esperança, no sentido da auto-observação, que é porta aberta para a sensibilidade e para a lucidez. O vazio de referências éticas cria pessoas inconsistentes e de vontade frouxa, incapazes de qualquer sacrifício. Não tendo aprendido a disciplinar os instintos, e sem discernimento para reconhecer o perigo, caem na degradação, arrastando muitos na sua queda. Outras crescem imbuídas de ideias de sucesso a qualquer preço. Exibirem-se no pequeno ecrã parece-lhes um meio de o conseguirem. Que importa que se dê exemplos de mediocridade e de grosseria, se com isso se alcançar fama e dinheiro? Não se hesita em inundar a mente dos mais novos de cenas de violência, que são absorvidas sem qualquer sentido crítico. As fantasias próprias da idade cedo são afastadas, para darem lugar ao desejo de domínio sobre os outros, a um forte sentido de competição, a atitudes agressivas, ao desdém em relação aos mais velhos, de quem se encontram separados por uma barreira de frieza a que não é alheia a ausência de diálogo. Orgulhosos por transgredirem as leis da sociedade, acabam por sofrer no corpo e na mente as consequências de tais transgressões. A autoridade e a ternura devem conjugar-se na educação dos jovens, para que estes não cresçam desenraizados. Muitos têm pais, mas é como se não os tivessem. O vazio afectivo é enorme, matando à nascença a capacidade de sonhar. A revolta cresce e leva a comportamentos irracionais. Em vez de ternura, violência; em vez de delicadeza, brutalidade. Pais demasiado ausentes, ou dando aos filhos exemplos de grosseria. E a situação não revela tendência para melhorar. A mentalidade divorcista tem-se acentuado, a par da banalização do adultério. Divididas entre famílias, sem saberem qual o seu lugar, as crianças vão vivendo ao sabor da imaturidade emocional dos pais, a meio caminho entre os conflitos de ambos, que as usam com frequência como forma de mutuamente se agredirem. Num ambiente em que o desrespeito impera, não se pode esperar obediência por parte dos mais novos. Se a dignidade e a rectidão se ausentam, a desordem instala-se facilmente. A chantagem e a astúcia, bem como a mentira, a maledicência e o rancor disputam entre si o domínio das situações cada vez mais difíceis com as quais as famílias se confrontam. O egoísmo só ouve a sua própria voz: define prioridades erradas e desrespeita compromissos sérios.

Semeia ventos. Colherá tempestades.

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