Obrigado


Obrigado, Mãe, por me teres ensinado a buscar a Verdade, quando tudo à minha volta me convidava a dissimulá-la.

Obrigado, Mãe, por me teres ensinado que os triunfos e as derrotas fazem parte da vida e que os obstáculos são fonte de crescimento.

Obrigado, Mãe, porque me preparaste para ser autónomo num mundo em que o apelo dos sentidos é cada vez mais forte.

Obrigado pela tua ternura e pela abnegação com que me dedicaste a tua vida, desde que comecei a existir dentro de ti.

Obrigado, Mãe, por teres povoado de sonhos a minha infância e por me teres deixado ser criança.

Obrigado, Mãe, por teres estado atenta aos perigos que me rodeavam, mesmo os que se escondiam sob roupagens inocentes.

Obrigado por teres compreendido que há um tempo para brincar e um tempo para ser responsável.

Obrigado pela esperança que soubeste transmitir-me e pelo respeito com que me ensinaste a olhar os outros.

Obrigado por teres aberto os meus olhos para a beleza das árvores, dos rios e das montanhas, e por me teres dito que aqueles que matam a natureza se matam a si próprios.

Obrigado, Mãe, porque nunca te impacientaste com as minhas perguntas de criança inquieta face ao mistério das coisas.

Obrigado por teres sabido ser firme perante as minhas teimosias e por me teres mostrado que autoridade e ternura não se negam mutuamente.

Obrigado, porque contigo aprendi a não me vergar diante dos respeitos humanos, nem a seguir as opiniões da maioria, apenas por ser maioria.

Obrigado por me teres ensinado a ser sóbrio numa sociedade em que a moda e a aparência falam demasiado alto.

Obrigado, porque me deste as horas da tua vida para que eu crescesse feliz.

Agora que sou adulto, lembro, Mãe, o tempo em que me falavas sobre o ter e o ser, e me dizias da distância que os separa. Aprendi contigo o valor da partilha e a recusa de tudo o que leva à perda da dignidade.

Ajudaste-me a crescer e respeitaste as minhas escolhas. Criaste em torno de mim um ambiente de harmonia e de ternura, mas também me abriste ao mundo e aos seus confrontos. Falaste-me do bem e do mal, da vaidade e da modéstia, da miragem das paixões e suas consequências. Fizeste-me sonhar com as tuas histórias, onde entravam príncipes e princesas, castelos misteriosos, florestas encantadas, fadas e feiticeiras. Ao ouvir-te, sentia-me mais forte perante os obstáculos, mais pronto para enfrentar a vida, mais seguro de mim. Contava-te os episódios da escola, que hoje recordo com saudade. Fui crescendo e vivi novas experiências. Senti o gosto da liberdade, despertei para outras sensações, questionei o meu universo de valores. Segui modas. Mas não perdi o gosto pelos livros, que tão bem soubeste incutir-me. E aos divertimentos vãos comecei a preferir a reflexão; ao ruído exterior, o silêncio que dignifica; às experiências passageiras que só deixam amargura, o diálogo que ajuda a crescer. Procuro, hoje, seguir o teu exemplo de responsabilidade e de diligência, de respeito pelos outros e de frontalidade. Sempre tiveste o dom de extrair dos momentos difíceis o melhor para a minha consciência. Mostraste-me que a liberdade só é um bem precioso quando assenta no respeito pela liberdade dos outros, e que a intolerância para com os que são diferentes é caminho certo para a desgraça. Por tudo isso, cresci na convicção de que não se deve cruzar os braços diante de um mundo dilacerado pela violência, e de que há formas de solucionar os graves problemas com que ele se debate. Mas nada será possível se não houver generosidade bastante.

A tua coerência, Mãe, traçou o meu próprio caminho e desviou-me do beco sem saída da mentira e da hipocrisia. Quantas vezes conversámos sobre a vida à nossa volta! Ensinaste-me a ser firme nas minhas convicções, sem por isso deixar de respeitar as convicções alheias, e a procurar adoptar sempre a atitude mais recta. Ensinaste-me também que a ternura é de longe mais importante na relação de um casal do que a satisfação dos instintos, que quase sempre, apenas conduz ao vazio. Dirigiste-me palavras esclarecidas sobre o mundo dos sentidos e disseste-me que autodomínio e repressão não são a mesma coisa. Ajudaste-me a conhecer melhor o meu corpo e a não me deixar subjugar pela força dos instintos, nem a buscar os paraísos artificiais da droga. Mas fizeste-me, acima de tudo, compreender que é preciso saber ouvir a voz da consciência, a única capaz de nos ajudar a separar o trigo do joio. Só ela tem a capacidade de devolver a esperança àqueles que a perderam, e de chamar à acção aqueles que baixaram os braços.

Sou um jovem do meu tempo, mas não pretendo, por isso, abdicar dos valores fundamentais do carácter: a rectidão e o sentido de responsabilidade, a tolerância, a honestidade, a compaixão. Quero estar informado, e não tenciono permitir que outros pensem por mim. Acredito na dignidade do ser humano, face a todas as formas de rebaixamento que os meios de comunicação social têm vindo a promover. Farei o que estiver ao meu alcance para contrariar a força de uma sociedade materialista em que os valores da aparência são mais poderosos que a defesa da vida no ventre materno, em que a liberdade se confunde com libertinagem, em que os jovens andam à deriva porque os governantes preferem investir em estádios de futebol, em que a ambição fala mais alto do que a honestidade. Farei o que estiver ao meu alcance para apoiar esses mesmos jovens, feridos da mais profunda das ignorâncias: a de que as suas vidas têm dignidade, apesar da negligência de muitos pais, que não se preocupam com a formação do carácter dos filhos, apesar de uma sociedade que explora as suas fragilidades com o fito do lucro, apesar de um futuro comprometido pela falta de perspectivas de emprego.

Termino, Mãe, agradecendo-te a oportunidade que me deste de vir a este mundo e de poder crescer na tua protecção. Dirijo-te estas palavras, que dirijo também a todas as Mães que tiveram a coragem e a generosidade de deixar a vida crescer dentro de si, e de dar aos seus filhos o apoio necessário para que estes pudessem amadurecer no sentido da rectidão e na esperança.

Anónimo

Sem comentários: